quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

As Grávidas e o Crack!

        Nessa caminhada de luta contra a Dependência Química achamos que nada mais pode nos abater ou mesmo nos impressionar. Convivendo diariamente com famílias em desespero clamando por ajuda e com dependentes alucinados implorando se libertar, acreditamos que já presenciamos de tudo. Todos somos conhecedores do drama das mulheres usuárias de Crack que engravidam, e muito tem se conversado para tentar dar um final feliz aos “filhos do Crack” que nascem todos os dias pelas centenas de Crackolândias espalhadas pelo nosso país.  
       Mesmo nós que trabalhamos diariamente com esse drama, e principalmente as Mães, que não suportam a idéia de viver longe do filho amado ou menos ainda pensar que algo pode estar os afligindo, se emocionam ao ver a situação dessas mães relatadas pela folha de São Paulo na data de hoje. Mulheres que fazem das calçadas sua morada e que fazem das ruas seu consultório pré-natal. A maioria delas se prostituíram para adquirir a droga e juntamente com a pedra obtiveram também uma nova vida nascendo em seu ventre.  
      Então eu me pergunto: onde estão os CRAS? Os conselhos de Psicologia? De Medicina ou Psiquiatria? Onde estão os membros da diretoria dos Direitos Humanos de São Paulo ou de qualquer cidade de nosso país que vive nessa mesma situação? Que direitos essas mulheres tem enquanto abandonadas nas ruas? Quanto tempo levará para construirmos leitos suficientes nos Hospitais “modelos” de nosso país para garantir o tratamento dessas mulheres, e mais ainda, dos filhos delas? 
Conforme a Folha de São Paulo  a operação da Polícia Militar iniciada em 3 de janeiro na região da Crackolândia (centro de São Paulo) expôs o drama de dezenas de mulheres que consomem a droga com seus filhos na barriga. Segundo a PM e a prefeitura, são pelo menos 20 que perambulam pela região.
O impacto do Crack na gestação tem sido objeto de vários estudos, mas ainda há controvérsia sobre os efeitos em longo prazo na criança. A questão é: como separar as seqüelas da droga de outros fatores também presentes na vida da gestante dependente, como alcoolismo, tabagismo e desnutrição? 
De acordo com o texto, os bebês dessas mulheres tendem a nascer prematuros e com atraso de desenvolvimento. Também têm mais chances de apresentar seqüelas neurológicas, retardo mental, déficit de aprendizagem e hiperatividade.Estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) com dez grávidas que vivem na cracolândia, obtido com exclusividade pela Folha, mostra que apenas duas estão fazendo o pré-natal. Seis grávidas fumavam até dez pedras por dia. As demais chegavam a consumir 20 pedras.
Grávida, Sara diz que conseguiu abandonar o crack por alguns anos, mas teve uma recaída após a prisão do marido, em 2009.
Outras imagens dessa reportagem em Folha de São Paulo
     Enquanto escrevo estas palavras e enquanto você as lê, centenas de mulheres continuam nessa mesma situação. Sabemos que precisamos de muito mais que pesquisas e dados para fazer algo de prático por essas mães, por esses bebês que em breve estarão entre nós. As Comunidades Terapêuticas tem buscado fazer a sua parte. Por anos agimos na ignorância, tendo apenas um coração imenso e uma causa a defender, lutas e almas a serem salvas. Mas hoje, mesmo com toda a dificuldade financeira que as CTS continuam a enfrentar, a batalha para adequações a leis que as regem continua sendo a prioridade de todas as Comunidades sérias e comprometidas com essa causa. 
     Ainda que se tivesse todo o dinheiro do mundo para se investir em leitos de hospitais não daria tempo de salvar nem a vida dos bebês que nascem todos os dias em meio a dependência das mães, e que pelo que diz os próprios fatos da vida, não terão outro caminho a seguir a não ser o próprio exemplo que foram gerados. 
     Que o nosso Deus continue a abençoar todas as Comunidades Terapêuticas em nosso Brasil e que essas mães consigam encontrar em seus caminhos alguma dessas tantas casas de homens ou mulheres que lutam juntos para se Libertar e viver finalmente uma vida em Família.